quarta-feira, 17 de junho de 2009

Transamazônica: uma reflexão sobre a palavra desenvolvimento

Transamazônica: quase 40 anos de polêmica e descaso
Junho 17, 2009 09:25 PM

Os problemas persistem na polêmica rodovia que pretende cruzar o País e continua impactando de forma negativa os trechos por onde passa

Da Revista Sustenta

Um dos mais ricos e importantes ecossistemas do planeta, a Amazônia, ainda sofre pela falta de comunicação, tanto física quanto tecnológica, a que está submetida. Prestes a completar 40 anos, a estrada que prometia ser parte da solução para esse dilema que afeta o desenvolvimento da região se tornou parte do problema. Com a meta de atravessar de leste a oeste a maior floresta tropical do mundo, a Transamazônica (ou rodovia BR-230), teve seu projeto lançado durante o governo Médici em 1970. O plano era faraônico: teria início com a construção de duas vias, uma saindo de João Pessoa (PB) e outra de Recife (PE), e as duas se uniriam em Picos (PI), chegando finalmente a Boqueirão da Esperança (AC). Nesse ponto final, localizado no estado mais a oeste do País, estaria um caminho prático e rápido para escoar a produção brasileira pelo Peru até o Oceano Pacífico e conectar mais facilmente, assim, a Amazônia ao mundo.

Hoje, décadas depois, a situação dos povos e do meio ambiente ao seu redor são tão alarmantes que a rodovia já foi rebatizada de “Transamargura” e “Transmiseriana”. Não à toa: com cinco mil quilômetros (dos oito mil previstos inicialmente) construídos, a estrada equivale a uma porteira escancarada para problemas socioambientais, como violência rural, desmatamento desenfreado e, principalmente, obstáculos ao desenvolvimento das comunidades e pequenos proprietários – público, ao menos no papel, que seria beneficiado primordialmente com a construção da rodovia.


A Transamazônica, ou rodovia BR-230, teve projeto lançado em 1970

A realidade do abandono e desmatamento pode ser vista mesmo do espaço: imagens de satélite mostram que os trechos da rodovia que ainda estão abertos se ramificam e compõem um retrato que lembra o desenho de uma espinha de peixe. Nos meses de seca, a estrada fica mergulhada na poeira. No período de chuva, que vai de outubro a março do ano seguinte, veículos atolam constantemente e linhas de ônibus param de circular em vários trechos.

“A rodovia era estratégica do ponto de vista geopolítico e social”, explicou, ao portal ComCiência, Aristón Portugal, agricultor e membro da coordenação executiva da Fundação Viver, Produzir, Preservar (FVPP), entidade de Altamira (PA) que congrega cerca de 120 organizações da região. Com a rodovia, Portugal conta que o Regime Militar pretendia diminuir a pressão social pela reforma agrária, além de colonizar a região norte brasileira, seguindo o lema de “integrar para não entregar”. “Do ponto de vista econômico, a Transamazônica sempre foi vista como secundária. Já a partir de 1975, o governo sumiu da área. As pessoas ficaram jogadas numa situação – um clima extremamente quente, com chuvas violentas e duradouras, estradas de terra como única infraestrutura – que em outras partes do País seria considerada de calamidade natural. Foi o caos total”, afirma.

Mesmo fazendo parte do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), as reformas na BR-230 seguem o ritmo de morosidade. Estavam previstos, desde 2007, R$ 950 milhões no projeto para a pavimentação de 835 quilômetros de estrada e a construção de diversas pontes, visando integrar a BR-163, no Pará, a ferrovia Carajás e a Hidrovia do Tocantins. Até agora, “estão pavimentados em torno de 198 quilômetros, alternados, no subtrecho da divisa Tocantins/Pará”, esclareceu ao site Notícias da Amazônia João Bosco Lobo, superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) nos estados do Pará e Amapá. Segundo ele, a falta de um ponto final nesse empreendimento se deve à falta de recursos e de licença ambiental. “Em alguns segmentos, que contabilizam 480 quilômetros, ainda não existe nem mesmo um projeto básico e executivo”, denuncia.

Segundo o Ministério dos Transportes, até o ano passado circulavam 580 veículos por dia pela Transamazônica. Destes, 60% para transporte de carga, composto especialmente por madeireiros. A rodovia tem quase dois terços (3,2 mil quilômetros) de sua extensão localizados nos estados do Tocantins, Pará e Amazonas, e concentra todo o tráfego do sistema rodoviário nordestino destinado à Amazônia. O recapeamento dos trechos pode facilitar o escoamento da produção de cacau, leite, carnes, grãos e madeira e ajudar a integrar a região.

(fonte: http://www.planeta-inteligente.com/page/article/id/25/Transamaznica-quase-40-anos-de-polmica-e-descaso)


Transamazônica
Marcelo Canellas
Sabado, 3 de Maio 2008

A Transamazônica corta um deserto de capim. De Altamira a Xinguara, no sul do Pará, são 520 km de campos vazios. Quando veio a estrada, foi-se a floresta. Eu era criança bem pequena, mas lembro de ouvir meu pai comentando sobre a grande rodovia que cortaria a selva.

Ainda retenho a imagem do ditador Emílio Garrastazu Médici debaixo de uma árvore imensa, cercado de tratores e aspones, cortando a fita da inauguração no começo da década de 1970. Mas não tenho certeza se vi na televisão, ao vivo, ou se a memória me engana, e o que vi foram imagens de arquivo anos depois. Tanto faz. Minha idéia infantil era de uma estrada sombreada, com macacos pendurados nas palmeiras e cipós tombando sobre a pista. Eu já sabia que a Transamazônica da minha infância era só uma fantasia. Mesmo assim levei um choque. Não há cipós nem macacos.

(fonte: http://www.jornalacidade.com.br/noticias/67087/transamazonica.html)


Alvaro Meirelles
Biólogo (CRBio 59.479/05-D)e Gestor Ambiental
www.grupomeirelles.com

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