27/05/2008 - Dia da Mata Atlântica: novos dados
Nesta terça-feira (27 de maio), Dia Nacional da Mata Atlântica, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgaram a conclusão dos levantamentos do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”. Os estudos feitos a partir de imagens de satélite mostram que o Bioma está reduzido a 7,26% de sua área original. Este número totaliza os fragmentos acima de 100 hectares, ou 1km2, e têm como base o mapeamento de 98% do bioma Mata Atlântica, ou 16 dos 17 Estados onde ocorre (PE, AL, SE, BA, ES, GO, MS, MG, RJ, SP, PR, SC, RS, CE, PR, RN e PI), incluindo dados levantados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia nos estados de CE, PE e RN. Apenas o Piauí não teve a área da Mata Atlântica avaliada. “Os dados apresentados para o período de 2000-2005 confirmam a redução de 69% na taxa de desmatamento comparada com o período anterior, fato que deve ser comemorado, mas a avaliação recente indica aumento no ritmo de desmatamento nos dois últimos anos, que é muito preocupante”, alerta Marcia Hirota. Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia foram os Estados que mais desmataram no período de 2000-2005, em números absolutos. Uma análise específica foi realizada para 51 municípios críticos, atualizando informações para os anos 2005-2007. Mafra, Itaiópolis e Santa Cecília, em Santa Catarina, foram os municípios que mais perderam cobertura nativa neste período. O relatório completo com todos os dados pode ser conferido no portal www.sosma.org.br , clique em Atlas da Mata Atlântica e depois em “Saiba mais”. Fonte: www.sosmatatlantica.org.br/index.php?section=content&action=contentDetails&idContent=236
ou diretamente pelo link http://www.sosma.org.br/index.php?section=atlas&action=atlas.
Buscando um breve respaldo legal que vise proteger a Mata Atlântica, encontramos proteção (teórica) nas três esferas do poder: como a Constituição Federal Brasileira, 1988, em seu Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações., § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica (...) são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm) Além da Lei da Mata Atlântica, Lei Federal Nº 11.428, de 22 de Dezembro de 2006, que "dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências" (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11428.htm),
Confira as imagens a seguir! Observe em vermelho o que era e o que é Mata Atlântica.
Estadualmente (Bahia) encontramos o Art. 216 - Constituem patrimônio estadual e sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro de condições que assegurem o manejo adequado do meio ambiente, inclusive quanto ao uso de seus recursos naturais, históricos e culturais:
II - o Sítio do Descobrimento, inclusive suas áreas urbanas;
§ 1º- As áreas costeiras e o Monte Pascoal, do atual Município de Porto Seguro e as do Município de Santa Cruz Cabrália constituirão a área denominada de Sítio do Descobrimento.
§ 2º- Para proteção do patrimônio histórico e do meio ambiente, qualquer projeto de investimento na área referida no parágrafo anterior será precedido de parecer técnico emitido por organismo competente e da homologação pelas Câmaras Municipais.
(Constituição Estadual da Bahia de 1989)
O Sítio do Descobrimento ou Costa do Descobrimento, ao mesmo tempo, rico em patrimônios naturais e culturais de representação nacional, hoje, encontra-se limitado aos poucos indígenas de calças jeans que perambulam encenando rituais sistematicamente, cada vez menos ricos em cultura e mais pobres em identidade. A Passarela do Álcool, esta sim é a atual identidade local. Quase esqueci as atrativas Raves de Trancoso, que por sinal encontrei na última semana um anúncio assim: "Numa praia, a música é eletrônica e as festas do tipo rave duram até 72 horas (...) Trancoso é o lugar mais badalado, encruzilhada de paulistas endinheirados, jovens modernérrimos, hippies de verdade, mochileiros de mentira e os "nativos" mais desinibidos do litoral brasileiro (...) a Transilvânia é uma casa de terror, na Ilha do Pirata, construída numa bonita ilha do manguezal do Rio Buranhém, há aquários com tubarões (...) Uma festa normal, em temporada, reúne 5.000 pessoas..."; outro relato diz: "...mas os índios que sabem o que é bom e o que é bom mesmo são as índias depois de dá uns tapa. Elas ficam tranquilonas e fazemos nossas vontades, tipo aquelas que não dá pra fazer lá na cidade da gente..." Bem pessoal, sobre os indígenas talvez não seja a época ideal para falar sobre estes e sua relação identitária local; prometo que ainda escrevo algo por aqui e podem cobrar que vou escrever sobre a identidade local e o ecoturismo. A propósito tenho me perguntado, estes dias... o que é um índio? Assim que descobrir a resposta para esta pergunta prometo que volto aqui e escrevo sobre o assunto. Caso algum dos leitores saiba a explicação, por favor, me envie (alvaromeirelles@yahoo.com.br), nas últimas semanas já ouvi até que índio que é índio não usa facão. Bem, voltemos a Mata Atlântica.
Enquanto produzimos e reproduzimos o discurso da preservação cultural e da conservação ambiental acompanhem algumas imagens desta tão protegida Costa do Descobrimento. Vejamos, em verde, o cenário de fragmentação do extremo sul do estado da Bahia. Vamos às imagens!
Não satisfeito resolvi levantar algumas questões locais e fui até a Lei Orgânica Municipal da Cidade do Salvador, 1991, onde encontrei:
Art. 224. Constituem patrimônio municipal e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem o manejo adequado do meio ambiente, inclusive quanto ao uso de seus recursos naturais, históricos e culturais:
III - os Parques de Pituaçu, Pirajá e São Bartolomeu, (...) o Parque da Cidade, e outros sítios históricos.
Art. 230. A criação de unidades ou parques de conservação por parte do Poder Público, com finalidade de preservar a integridade de exemplares dos ecossistemas, será imediatamente seguida de desapropriação e dos procedimentos necessários à regularização fundiária, bem como da implantação de estruturas e fiscalização adequada.
O citado Parque Metropolitano de Pituaçu, PMP, foi instituído pelo Decreto Estadual 23.666 de 1973, representando a maior área, legalmente protegida, enquanto reserva ecológica do município. Porém desde 1973 perdemos cerca de 25% de área florestada do Parque, que despencou dos seus 600 hectares originais para aproximadamente 420 hectares de Mata Atlântica secundária e certa influência de restinga. Nele residem inúmeras famílias que em sua maioria sobrevivem alheias aos objetivos do PMP, ou seja, não foram inseridas no projeto de criação e gestão deste. Não observamos sinais de melhoria da qualidade ambiental nos últimos anos. Será que a solução seria contratar uns índios? Tenho pensado em consultar uma dessas ONGs picaretas que não passam de postos avançados patrocinados por verbas internacionais rumo à conquista da nossa biodiversidade e, consequentemente, patrimônio genético; mas, ao que vejo, estão ocupadas catequizando e ensinando aos índios Brasileiros a usar facão em substituição do arco e flecha. Deve ser para evitar a utilização da madeira nativa. Por favor, não sejam ingênuos, mas também não percam o otimismo.
Fazemos nossa parte. Coleta de resíduos quando coordenei um grupo de estudantes de curso técnico em Meio Ambiente.
Ao término da coleta fizemos a devida segregação. Sabemos que esta não é a solução, mas sim parte dela.
Infelizmente ainda temos que comentar sobre os resíduos deixados, pela população local e visitantes, sem qualquer tipo de segregação ou proteção do solo, ar atmosférico ou mesmo água da lagoa deste parque.
O título desta postagem não é apenas uma provocação. É um alerta. Pensar no amanhã das Florestas Tropicais vem se tornando uma visão otimista. Não temos mais tempo para ceder espaço ao desenvolvimento sustentado na teoria reforçada por bonitos gráficos e discursos pessimamente contextualizados. Precisamos de ações!
Em muitas das minhas apresentações, como aulas, cursos e palestras, utilizei estas imagens e a platéia sempre reagiu da mesma maneira, assim como você, com semblantes de indignação e revolta. Nós, do Grupo Meirelles, sabemos que a sensibilização é apenas o primeiro dos passos para mudar o atual cenário. Comece expondo seu argumento e comentando esta postagem.
Alvaro Meirelles
Biólogo (CRBio 59.479/05-D) e Gestor Ambiental
http://www.grupomeirelles.com/
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