sábado, 23 de fevereiro de 2008

Dique do Tororó, um passado pouco comentado

É impressionante o quanto o Dique do Tororó faz parte das nossas vidas e mais ainda a ignorância a respeito da história deste patrimônio pouco valorizado. Por várias vezes já questionei em sala de aula a sobre a história deste manancial e sempre obtive a mesma mensagem como resposta... “...não sei muita coisa sobre o Dique, mas gostaria de saber...” então somada a curiosidade, a importância para a cultura popular e as questões ambientais envolvias apresento-lhes um pouco do que foi o Dique do Tororó.


“Descendo a encosta por onde já tínhamos passado, deixamos à cidade, e a natureza ardente e exuberante acolheu-nos em seus braços verdes. Mangueiras lançavam sua copa fresca por sobre o caminho íngreme, touceiras de bambu invadiam a rua, mato espesso e trepadeiras etéreas formavam grupos pitorescos e, assim, a natureza, numa decoração cada vez mais rica, levou-nos à jóia da Bahia – ao Dique -, com justiça, muito elogiado. À primeira vista, a parte mais afastada da lagoa parecia banal, quero dizer, comum aos olhos europeus... Apresenta, como tive mais tarde ocasião de notar, inúmeras curvas e, assim, mostrava-se, no primeiro momento, apenas um pedaço de água estagnada cercado de terreno pantanoso... Que encantamento interior, que curiosidade sublime tinha, pois, que sentir, às margens sombreadas de uma lagoa brasileira, onde cada planta era nova, cada árvore, maravilhosa, cada canto de pássaro, surpreendente, cada inseto, uma forma nova, onde, atrás de cada folha brilhante de uma planta aquática, podia estar escondida uma cobra e o encrespar da água revelar a presença de um jacaré!... À nossa direita, tínhamos a margem, com misteriosas plantas aquáticas, úmidas, verde-lazurita, inúmeras aróideas e canáceas, entre elas, a Arum-gigante, a rara Anhinga, que nosso pequeno botânico saudava com alegria realmente comovente, como se aí se encontrasse o objetivo de sua felicidade, a flor encantada de um conto de fadas. À nossa esquerda, na encosta da qual nos aproximávamos, tínhamos árvores imponentes e tufos espessos de arbustos de todos os tipos. Diante de nós, desdobravam-se de maneira surpreendente, como elementos de decoração, as enseadas da lagoa tão extensa, circundadas por colinas... A vegetação derramava-se, como grandes ondas, encosta abaixo, para dentro da lagoa. Grupos diversos, gigantescos, de mangueiras e jaqueiras constituem os ápices redondos das ondas. As cristas ciciantes das ondas nesse mar verde, são as palmeiras, que se sobressaem, aqui e ali. A espuma brilhante, no seu vaivém gracioso, são as inúmeras trepadeiras que, ora pendentes, ora erguendo-se para o alto, cobrem a floresta. Em meio a tal abundância de plantas, espalham-se, ramificando-se, as enseadas da lagoa tranqüila... A única coisa que não corresponde à poesia paradisíaca do resto é a água suja, marrom, impregnada de terra, que se encontra em toda parte, nos trópicos, e que é atribuída à abundância de substâncias vegetais. Daí se entende porque os jacarés devem sentir-se tão à vontade nesse mar marrom. Seu número, no Dique, deve ser bastante significativo, e eles revelam, de vez em quando, a sua presença, através do desaparecimento de alguns que ali se banhavam, ou pela mordida no pé de uma lavadeira demasiado corajosa. Isso acontece, porém, raramente, e só assim, pode-se explicar a coragem de a população circular no Dique, apesar de tudo.”
Assim o Dique do Tororó foi descrito pelo príncipe Maximiliano de Habsburg, em seu “Esboços de Viagem”, 1860.

Este fascinante passeio pela descrição do antigo Dique é uma verdadeira aula de educação ambiental, afinal quem em séculos passados apresentaria um prognóstico fiel a atual situação? Ainda assim o Dique continuará sendo uma referência religiosa e continuará amortecendo a paisagem, cinza do concreto e avermelhada das casas não rebocadas que o rodeia. Quanto à prática de atividades físicas aí estimuladas, bem, não posso recomendar em função da poluição atmosférica revelada por outras pesquisas que discutiremos nas próximas postagens.

Alvaro Meirelles
Biólogo e Gestor Ambiental
www.GrupoMeirelles.com

Um comentário:

  1. Aí Alvaro, muita bacana a matéria do "Dique do Tororó"...parabens para o Grupo Meirelles pelo trabalho, pela iniciativa e pela consciência amiental!!! Aloha de paz sempre.

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